"O Roubo do Presente"
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Chegamos a um estado em que o estado nos rouba tudo... Trabalho, educação, saúde, direitos sociais e laborais e nos rouba a esperança a cada dia que passa, esmagando o povo (com impostos) até este não poder mais... Levando milhões à pobreza, à beira do abismo, ao desespero total. E no entanto o povo não repara que a democracia em que vivemos está
sequestrada, condicionada, amputada... Porque o poder do cidadão, o poder de cada
um de nós, limita-se, na esfera política a tirar um governo de que não se gosta
e a pôr um outro de que talvez se venha a gostar...
Há pelo menos uma década e meia está a ser planeada e
experimentada quer a nível do nosso país, quer na Europa e no mundo uma nova
ditadura - não tem armas, não tem aparência de assalto, não tem bombas, mas tem
terror e opressão e domesticação social e se deixarmos andar, é também um golpe
de estado e terá um só partido e um só governo- ditadura psicológica.
"O roubo do presente", por José Gil:
"Nunca uma situação se desenhou assim para o povo
português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social, cultural,
económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência
adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e
o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas,
em nós e diante de nós, um buraco negro.
O «empobrecimento» significa não ter onde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta
a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu. O poder destrói o
presente individual e colectivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de
trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com
obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de
iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com
horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho.
O
Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva:
por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos
burocráticos excessivos e incessantes: stresse, depressões, patologias
border-/ine enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre
dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do
desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho
(e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens).
O presente não é uma dimensão
abstracta do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da
vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e
do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direcções.
Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a
afirmação da nossa presença no presente do espaço público. Actualmente, as
pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais.
O
empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização
da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do
«por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se,
fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos -
porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo
(real e mental) para o convívio. A solidariedade efectiva não chega para
retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado
social, como está a destruir a sociedade civil.
Um fenómeno, propriamente
terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e
se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os
prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida
que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece,
mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço
continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter
substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar
num ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que
busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.
Sem
presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura
de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão
espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português.
Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos,
desapropria-nos do nosso poder de acção. É este que devemos, antes de tudo,
recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso
país." Verifique, aqui!
José Gil
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