Pessoas famosas que usufruíram de vistos passados por
Aristides de Sousa Mendes...
Entre aqueles que obtiveram um visto do cônsul português
contam-se:
Políticos:
- Otto de Habsburgo, filho de Carlos, o último imperador da
Áustria-Hungria; o príncipe Otto
era detestado por Adolf Hitler, que o condenara inclusive à morte. Ele
escapou com a sua família desde o exílio belga e dirigiu-se aos Estados
Unidos onde participou numa campanha para alertar a opinião pública.
- Vários
ministros do governo belga no exílio
Artistas:
Aristides Sousa Mendes, the forgotten portuguese hero...
Este filme é sobre um homem que teve a coragem de escolher
proteger vidas humanas. Na Segunda Guerra Mundial, ele salvou as vidas de
30.000 pessoas. Apesar de ter trabalhado sozinho na Embaixada de Portugal, na
França, um país que foi ocupado esse tempo pelos nazistas. Este homem fez uma
escolha única, ele decidiu salvar vidas. E ele não temia, nem a Alemanha, nem
as colaboracionistas franceses, nem o seu governo que a partir de Lisboa, em
Portugal, disse-lhe para não fazer isso. Ele era um homem muito corajoso.
Um pouco de História sobre Aristides...
Afinal quem foi Aristides Sousa Mendes...?
Veja os vídeos a baixo para melhor entender quem ele foi...
Grandes Portugueses - Aristides de Sousa Mendes_1-5
Maio de 1940 Aristides falsifica documentos...
A 10 de Maio de 1940 a Alemanha lança uma ofensiva contra a
França, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. É nesta altura que milhões de pessoas
começam a abandonar os seus lares e terras fugindo da frente de batalha.
A 30 de Maio, Aristides, volta a prevaricar. Desta vez vai
para além da desobediência à Circular 14. Uma mulher Luxemburguesa de origem
Portuguesa, antiga conhecida de Aristides, pede-lhe ajuda para fugir para
Portugal juntamente com o seu marido Luxemburguês, Paul Miny. Paul está em
idade militar e quer fugir da mobilização para o exercito Luxemburguês que
estava a ser organizado no norte de França. Aristides conhece a mulher e quer
ajuda-la, decide então falsificar os documentos e fazer Paul passar por cidadão
português, o que lhe permitirá, iludindo as autoridades fronteiriças francesas,
escapar à mobilização.
A 7 de Junho, já com Paul Miny em fuga à mobilização, ainda
as tropas Francesas resistiam heroicamente contra a ofensiva alemã na batalha
do Somme, a 700Km de Bordeus. A 14ª divisão Panzer é reduzida a menos de metade
e nessa altura o General Alemão Von Richenau comandante-chefe do 6ª exercito
diz “os militares franceses envolvidos na batalha do Somme lutaram como leões”.
Assim, enquanto os franceses ainda lutavam como leões, na retaguarda, com
documentos falsificados por Sousa Mendes, Paul Miny desertava.
Nesta altura Aristides arriscou-se bastante, a falsificação
de documentos é um crime grave, punível com a pena de prisão. O facto de
Aristides ser funcionário público constituía uma agravante. Mais
tarde no processo disciplinar que lhe é movido, a acusação decide desviar o
olhar deste incidente, poupando Sousa Mendes a uma condenação certa,
considerando-o um caso fora do âmbito das competências do MNE, ou seja, um caso
de polícia e justiça.
Grandes Portugueses - Aristides de Sousa Mendes_2-5
Junho de 1940 Aristides decide passar vistos
indiscriminadamente...
Com exército alemão a aproximar-se de Paris, gera-se o
pânico na população francesa que se põe em fuga e dá-se então inicio ao maior
movimento de deslocação de pessoas da historia da Europa. Estima-se
que entre oito a dez milhões de pessoas, sobretudo mulheres velhos e crianças,
em pânico, se tenham posto em fuga, em direcção ao sul, mas sem um destino
concreto, num movimento desordenado, chegando inclusivamente a limitar a
manobra do exército Francês, e chegando ao ponto de na parte final, a multidão,
já ultrapassada pelo exercito alemão, estar já a fugir em direcção ao inimigo.
Uma descrição deste caos gigantesco é descrita em grande detalhe por dois
voluntários britânicos, do Corpo de Ambulâncias Francês, que sendo apanhados no
meio da confusão, imortalizaram de modo sublime, no seu livro “The Road to
Bordeaux”, o drama e a angustia desses dias.
Nessa altura, em Biarritz vivia uma “comunidade” de
refugiados políticos portugueses, que aí se tinha exilado, ainda no tempo da
república, e entre os quais se encontrava o antigo Presidente da República, Bernardino Machado. A 1 de Junho de 1940 é
promulgado, por Salazar, um Decreto amnistiando todos os exilados políticos
portugueses, permitindo-lhes o regresso a Portugal.
Até esta altura, e desde o início da guerra, o consulado
português tinha emitido cerca de 1200 vistos, quase todos autorizados pelo MNE,
com excepção dos vistos passados ao comunista Neira Laporte e ao judeu
Austríaco Arnold Wizniter e com excepção também de mais alguns, poucos, vistos
que Aristides na altura negou mas
que hoje podem ser identificados. Note-se que Bordéus não era o único consulado
que emitia vistos. Durante este período todos os restantes consulados
portugueses espalhados pela Europa distribuíram vistos. Tal era o caso de
Antuérpia, Paris, Toulouse, Berlim, Hendaia, etc.
Grandes Portugueses - Aristides de Sousa Mendes_3-5
É em princípios de Junho de 1940 que a avalanche de
população em fuga se abate sobre Bordéus. Os números falam por si. Nos
primeiros 10 dias de Junho o consulado de Bordéus emitiu 59 vistos, todos
regulares, todos pagos. No dia 10 de Junho a Itália declara guerra à França e à
Grã-Bretanha. No dia 11 de Junho o consulado emitiu 67 vistos, a 12 emitiu 47.
No dia 12 de Junho a Espanha altera a sua posição de país neutral para
não-beligerante colocando a neutralidade de Portugal. No dia 13 de Junho o
consulado emitiu apenas 6 vistos, mas a 14 emitiu 173, a 15 emitiu 112, a 16
emitiu 40.
A quebra no dia 16 justifica-se por ser um Domingo. Nesse
dia Aristides ainda concedeu alguns vistos. É o próprio Aristides que o diz, e
também diz que inclusivamente cobrou os emolumentos suplementares a que tinha
direito por estar a trabalhar a um Domingo. Aristides recorda em particular os
vistos que concedeu ao banqueiro Rothschild, que não quis esperar por
segunda-feira e se prestou a pagar os emolumentos suplementares.
Mas foi provavelmente no dia 13 que Aristides, sucumbindo à
pressão psicológica de ter de auxiliar a uma população em pânico e também
pressionado pelos escândalos provocados no consulado pela sua amante grávida,
se retirou para o seu quarto onde esteve três dias deitado com um esgotamento
nervoso.
A 16 de Novembro o diplomata Francisco Calheiros e Menezes
chega a Bordéus e é recebido pelo Consul, num quarto escuro onde o cônsul se
encontra acamado, exausto.
É então, no dia 17 de Junho que Aristides, dizendo-se
inspirado por um poder divino, decide conceder visto a todos os que lho
pedissem: "A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há
nacionalidades, raça ou religião". Com a ajuda dos seus filhos e
sobrinhos e do rabino Kruger, ele carimba passaportes,
assina vistos, usando todas as folhas de papel disponíveis. No dia 17 emitiu
247 vistos, dos quais muitos a cidadãos portugueses,
no dia 18 emitiu 221 vistos e no dia 19 emitiu 156 vistos.
Entre as pessoas que ele o estão a ajudar encontra-se o Rabino de Antuérpia, Jacob Kruger, que lhe faz
compreender que há que salvar os refugiados judeus.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, ele terá
dito:
“
|
Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos
homens do que a uma ordem de Deus.
|
”
|
Grandes Portugueses - Aristides de Sousa Mendes_4-5
As discórdias relativamente aos números...
No entanto continua a haver muitos defensores da estimativa
de 30,000 refugiados. Entre os que defendem este número merece destaque a Sousa
Mendes Foundation, nos EUA, que tem um ambicioso projecto de identificação de
todos aqueles que receberam vistos passados por Sousa Mendes. O site da
fundação publica um lista de todos aqueles que viajaram para Portugal com
vistos passados pelo cônsul em Bordéus. No
entanto, a lista mistura vistos passados por Aristides no cumprimento estrito
dos seus deveres de cônsul (muitos passados a Portugueses, outros a viajantes,
outros a Ingleses, Americanos, etc. de regresso aos seus países), com os vistos
passados em desobediência, tornado a consulta demasiado morosa. A fundação
chama a atenção para um ponto relevante, não poucas vezes um visto era passado
a mais do que uma pessoa, como é o caso de adultos que viajavam com crianças,
pelo que o número real de pessoas é superior ao de vistos.
No entanto, dizer que todos aqueles que receberam vistos
foram “salvos” parece uma dedução demasiado simplista. Muitos eram banqueiros,
milionários, políticos que teriam tido oportunidade de escapar de uma maneira
ou de outra e, a maioria, dos oito a dez milhões que naqueles dias de pânico se
pôs em fuga, acabou por regressar às suas casas e sobreviver aos horrores da
guerra. Também é de salientar que o episódio de Bordéus ocorreu muito antes do
terrível holocausto Nazi. Note-se que, por exemplo, no verão de 1942 ainda
viviam na Holanda 4,300 judeus de origem portuguesa que até aí, não obstante a
brutal repressão Nazi, não tinham sentido a necessidade de abandonar as suas
casas e os seus haveres.
As pessoas com vistos emitidos por Sousa Mendes foram
autorizadas a entrar em Portugal, foram acolhidas, alimentadas e apoiadas. Um
simples carimbo no passaporte não teria bastado para salvar um refugiado.
Numa entrevista recente, Rui Afonso, biógrafo e admirador de
Aristides, conta-nos que depois de muitos anos de investigação tem chegado à
conclusão que a maioria dos refugiados ajudados por Aristides eram pessoas com
meios. Claro que pessoas como o rabino polaco Chaim Kruger, homem relativamente
pobre, eram pessoas de meios muito mais modestos do que os milionários e
aristocratas que também receberam vistos. Havia homens de negócio, industriais,
muita gente que trabalhava na indústria dos diamantes na Antuérpia, actores de
cinema, pianistas, pintores, intelectuais, banqueiros etc. Para ter passaporte
e para viajar era preciso, na altura, ter meios financeiros.
O processo disciplinar no MNE...
A 8 de Julho de 1940, Aristides, de
volta a Portugal e tem que enfrentar um processo disciplinar movido pelo MNE.
Aristides poderia ter enfrentado quatro acusações:
- Desobediência
às instruções do MNE, emitindo vistos de forma indiscriminada.
- Abandono
não autorizado do posto.
- Crime
de extorsão, com base na queixa apresentada pela Embaixada Britânica.
- Crime
de falsificação de documentos, para ajudar o desertor Paul Miny.
As duas últimas acusações eram muito graves e ambas puníveis
com pena de prisão e despedimento da função pública. A acusação, opta por ser
benevolente e decide não investigar o caso reportado pela embaixada Britânica e
no crime de falsificação de documentos, que Aristides admite ter praticado, a
acusação opta por considerar que o crime não é da sua esfera de competência.
Grandes Portugueses - Aristides de Sousa Mendes_5-5
O acolhimento de Portugal a refugiados da guerra não
terminou com o fim da Guerra, continuou nos anos que se seguiram. O caso mais
emblemático é o dos “meninos austríacos”, uma mega operação da
Caritas
Portugal. Em 1948 vêm para Portugal 5,500 crianças austríacas, na sua
maioria órfãs, mal nutridas, que são distribuídas por famílias de acolhimento
de norte a sul do país. Muitas destas crianças voltaram para a Áustria passados
alguns anos. Outras deixaram-se ficar por Portugal. O caso talvez mais curioso
é o de Gustav Zenkl que veio a ser um toureiro famoso. E passados muitos anos
alguns destes meninos, já velhos e reformados, escolheram Portugal como país
para viverem os seus dias de reforma. Em 2009 numa deslocação do Presidente
Cavaco Silva à Áustria, Cavaco Silva teve oportunidade de se encontrar com
alguns destes “meninos”. Ursula Mertin, uma antiga menina, contou-lhe que
quando era pequena, em Portugal, durante uma visita do então presidente do
Conselho de Ministros, António Oliveira Salazar, a Santo Tirso, este reparou em
Ursula e falou com ela. "Parece que gostou de mim. A seguir, trocámos
cartas e convidou-me a ir à casa dele, ao palácio. E pelo Natal enviava-me
sempre ananases dos Açores", contou Ursula, que não se afastou da sua
família portuguesa e recentemente visitou Portugal.
Um português que sem dúvida deixa a maioria dos Portugueses cheios de orgulho, Aristides Sousa Mendes. No entanto há alguns poucos que teimam em não lhe dar o tribute/homenagem merecido...