Praxe: na Universidade e na vida, integra-te na cobardia...
Por Daniel Oliveira; aqui!
"Felizmente, longe vão os tempos em que ao se entrar na
Universidade já se era "doutor". E que ser "doutor" era uma
espécie de título nobiliárquico da República, perante a qual a plebe
respeitosamente se vergava com um "senhor doutor" em cada frase. A
Universidade, democratizada e aberta a muitíssimo mais gente, perdeu a
capacidade de oferecer aos seus estudantes prestígio social. E foi aí que, fora
da cidade de Coimbra, começou a inventar-se uma tradição. A tradição académica. Mas
até aqui tudo bem.
Amigo não empata amigo. Cada um veste os trajes que entender e ninguém tem nada
a ver com isso.
Compreendo esta necessidade de ritualizar aquele momento da
vida. Para muita gente a entrada na Universidade não é uma mera continuação dos
estudos. É motivo de orgulho familiar. Resultado de enormes sacrifícios de pais
e filhos. No momento em que entram na Academia muitos daqueles caloiros
acreditam que conseguiram dar o primeiro passo na sonhada ascensão social. Serei
o último a julgar.
Bem diferente é a praxe. Também ela pretende dar
àquele momento uma importância que não tem. É um ritual de passagem sem qualquer
tradição na maioria das faculdades - também elas recentes. Bruno Moraes
Cabral acompanhou este momento. Em Lisboa, Santarém, Coimbra, Setúbal e Beja. E
fez um documentário que estreia, no DocLisboa, na próxima sexta-feira
(Culturgest, Pequeno Auditório, 21h). Chama-se "Praxis", a origem
grega da palavra "praxe". Tudo o que filmou foi com
autorização dos envolvidos. Ali não está, portanto, aquilo que os próprios
podem ver como um abuso ou um excesso. É a versão soft da praxe.
O que vemos é uma sucessão de humilhações
consentidas - ou toleradas por quem, estando fora do seu meio, não tem
coragem de dizer que não. A boçalidade atinge níveis abjectos.
Os gritos alarves , a exibição de simulações forçadas
de atos sexuais, o exercício engraçadinho do poder arbitrário de
quem, por uns dias, não conhece qualquer limite. Tudo isso impressiona quem
tenha algum amor próprio e respeito pela sua autonomia, liberdade e dignidade.
Mas a questão é mais profunda do que a susceptibilidade de cada um. É o que
aquilo quer dizer.
Como o documentário não é um mero ato de voyeurismo,
mostra-nos o outro lado. Como a esmagadora maioria dos caloiros se
sente bem naquela pele. Porquê? Porque, como já disse, aquilo marca o início de
um momento que julgam que mudará a sua vida. Mas, acima de tudo, porque os
"integra". E não se trata de uma mentira. De facto, naqueles
rituais violentos e humilhantes, conhecem pessoas e sentem-se integrados num
grupo. Eles são, naquele momento, rebaixados da mesma forma. Não há
discriminações. São todos "paneleiros", "putas",
"vermes". Na sua passividade e obediência, não se distinguem. Até,
quando deixarem de ser caloiros, terem direito à mesma "dignidade" de
que gozam os que bondosamente os maltrataram. Aceitam. Porque, como escrevia
Jean-Paul Sartre, "é sempre fácil obedecer quando se sonha
comandar".
Sim, a praxe integra. A questão é saber em que é que ela
integra. Porque a integração não é obrigatoriamente positiva. Se ela
nivela todos por baixo deve ser evitada a todo o custo. Perante o que
é degradante os espíritos críticos distinguem-se e resistem. Não se querem
integrar.
Ingénuos, supomos que a Universidade deveria promover o
oposto: a exigência, o sentido critico, a capacidade de recusar a tradição pela
tradição, a distinção. A Academia que aceita o espírito bovino da
obediência está morta. Porque será incapaz de inovar, de pôr em causa
e de questionar o resto da sociedade. A universidade que, através de rituais
(que têm um significado), promove o seguidismo e a apatia, não é apenas inútil
para a comunidade. É um problema para o conhecimento e para a cidadania.
Mais do que as cenas dignas de muito do telelixo que nos
entra em casa, o que impressiona é a relação que a comunidade mantém com
aquilo. São raros os que põem em causa tão estúpida tradição sem tradição
nenhuma. E é normal. Vemos no documentário como as estruturas
universitárias - corpo diretivo e docente - não só toleram como promovem a
boçalidade. As autarquias emprestam meios. As empresas de bebidas patrocinam. E
até membros do clero vão lá benzer a coisa, perante jovens de caras
pintadas ou com penicos na cabeça. Não se trata apenas de um momento de
imbecilidade de alguns jovens e adolescentes. Porque é aceite por todos, porque
é mesmo assim que as coisas são, foi institucionalizada e parece ser vista por
todos como um momento que dá dignidade à Universidade.
Assim, com pequenos gestos simbólicos, se forja a alma de
cidadãos sem fibra. Incapazes de dizerem que não. Incapazes de se distinguirem
dos demais. A praxe é a iniciação de uma longa carreira de cobardia. Na
escola, perante as verdades indiscutíveis dos "mestres". Na rua,
perante o poder político. Na empresa, perante o patrão. A praxe não é
apenas a praxe. É o processo de iniciação na indignidade quotidiana.
O pior escravo é aquele que não se quer libertar. E que encontra na escravidão
o conforto de ser como os outros. Os caloiros que aceitam a praxe não são ainda
escravos. Apenas treinam para o ser."
Nota - O texto que leram foi inteiramente surripiado aqui!
Acho que descreve na perfeição, a cobardia de quem pratica a praxe e se deixa praxar...!
Situações completamente animalescas... Mas que juventude é esta?
Há que proibir esta vergonha, chega de mortes estúpidas!
Os que depois forem
apanhados de novo a cometer estas vergonhas, é expulsa-los do ensino e
envia-los logo de imediato para a exercito! Pois lá é o sitio que eles merecem!
É inadmissível a perda de vidas, pela tolice de meia dúzia, que não tem nada de
mais proveitoso para fazer... Então, andam sempre a apelar ao fim da
violência... Então isto não é violência? Violência física o moral, se não mesmo
Bullying em larga escala...!
Nota - Vídeo surripiado da Anabela Magalhães
Nota - Vídeo surripiado da Anabela Magalhães
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