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quarta-feira, 18 de março de 2015

Acabar com o Populismo... por Gloria Alvarez

Acabar com o Populismo... por Gloria Alvarez





Hoje, com as Democracias em colapso, causado pelas elites corruptas e subservientes ao alto capitalismo, é pertinente ouvir Gloria Álvarez.


Gloria Álvarez é a face de um vídeo que não tem parado de circular pela Internet nas últimas semanas. Ela foi participante do Parlamento Iberoamericano de la Juventud que ocorreu em Setembro em Zaragoza, Espanha, organizado pela Red Iberoamericana Líder, a qual busca unir jovens líderes comprometidos com a democracia, o respeito aos direitos humanos e a liberdade individual.

“É acolhedor e impressionante. Não esperava por isso”, disse sobre a fama que tem tido a filmagem do seu discurso numa defesa ferrenha das instituições republicanas, o qual alcançará [no vídeo original] muito em breve mais de 1 milhão de visualizações.





Ela é cientista política, locutora de rádio e directora de projectos do Movimiento Cívico Nacional da Guatemala (MCN), ONG que promove uma participação cidadã informada, responsável e activa na política nacional.

“Agora surge o desafio do que fazer depois do discurso – explica ela -, como manter essa unidade e fazer algo para desmantelar o populismo”, sustenta.



Poderia ser Álvarez a “Camila Vallejo” do liberalismo?

[Belén Marty/PanAm Post] Acredita que vale a pena adentrar no mundo da política para lutar pelas instituições republicanas que menciona no vídeo?

Sim, eu acredito que vale muito a pena, mas não é algo para todo mundo. Você como cidadão deve se interessar por questões de economia, políticas públicas, história universal, então primeiro deve se definir como indivíduo para saber o que gostaria de ver num governo, e só então poder dele exigir.

Creio que é muito importante nosso papel de cidadãos, ainda que nunca nos envolvemos na política. Somos os guardiões para que estes empregados públicos façam bem seu trabalho.


Qual o rol das novas tecnologias?

No caso da Guatemala tem ocorrido que a tecnologia dos smartphones e tablets estão chegando a lugares onde nem se quer há água potável. Existem aldeias onde as pessoas não tem electricidade em sua casa, então vão até os municípios para carregar seus telefones. Está chegando a tecnologia antes de outros serviços básicos, incluindo a educação.

É importante utilizar, dentro das ferramentas tecnológicas que oferece a Internet, diferentes documentários, tutoriais, cursos e livros em PDF, vídeos; qualquer ferramenta que possamos utilizar para levar a educação que estas populações necessitam.

Oportunidades, como bolsas, que permitem ter uma carreira de forma gratuita, é uma grande aposta. Sobretudo quando vemos que os governos populistas não estão interessados em nos educar: dependem de nossa ignorância para se manterem no poder.

Eu aposto na tecnologia como o substituto de um Ministério da Educação irresponsável, ou de professores que ficaram presos no século passado.


É muito interessante o conceito de gratuidade que menciona em seu discurso. Que quer dizer com aquilo?

O populista em seus discursos sempre fala de entes abstractos, a nação sente, a nação opina, a naçãopensa, e realmente quando se põe a pensar, tanto o Estado como a nação, não são mais que um conjunto de indivíduos tomando decisões.

Quando alguém utiliza essa generalização de abstractos e te diz “o Estado paga“, as pessoas esquecem que o Estado não é um ente que gera dinheiro por si mesmo, mas que são um monte de indivíduos que recebem recursos de outro monte de indivíduos, que decidem como vão se administrar esses recursos.

Nada é grátis. Ou seja, temos que está conscientes de que tudo vem com o custo de algo. E no meu país, de cada 10 actividades económicas só duas pagam impostos. Todo mundo quer exigir do Estado, e é muito fácil exigir sem contribuir.



O que diria as mulheres que estão te lendo?

Em primeiro lugar o mesmo que digo aos jovens. Ser jovem não é uma virtude em si mesmo. Ser mulher tem suas virtudes, mas para questões políticas o que importa é sua capacidade mental para liderar uma nação, o poder de resolver problemas.

Eu sou contra as famosas cotas, creio que cada um merece seu lugar, não pelo aparato reprodutor que tenha, mas por como demonstre que vá melhorar as condições de um país.

A primeira mensagem para a mulher é que não se agarre ao ser mulher para obter espaço: isso não tem validez dado não ter fundamento lógico. A segunda: por ser mulher nos associam muito com o papel das mães, e as mães dão, dão e dão, sem pedir nada em troca. Por isso muitas mulheres utilizam-se das ferramentas populistas na hora de fazer política.

Posso pensar em Eva Perón, Cristina Kirchner, Michelle Bachelet, Angela Merkel e em Michelle Obama. As poucas mulheres que se metem na política caem nesse discurso populista de dar e dar, e são muito bem acolhidas pela população, porque lembram da figura de suas mães.



Por que acredita que não existe uma forte defesa das ideias liberais entre os parlamentares?


O desafio que o liberalismo clássico te impõe é que cada um é livre para buscar o modelo de vida que queira, mas isso exige responsabilidade sobre as consequências dos seus actos.

Então, isso é como que eu te diga que nos vamos a uma festa nos embebedarmos, mas ninguém quer ter a responsabilidade de ir para a cadeia se dirigir um automóvel e atropelar alguém. Todo mundo quer farrear, mas nem todo mundo quer carregar a responsabilidade e a consequência que isso lhe traz.

O liberalismo clássico exige responsabilidade, é a face de uma mesma moeda. E nossos políticos também tem feito um maravilhoso trabalho em dizer as pessoas que elas não são responsáveis por suas vidas, mas que são tão somente vítimas.

Na Guatemala vejo mulheres que engravidam com o propósito de cobrar mais auxílio do Estado. Caem em atitudes completamente irresponsáveis, mas porque, por um lado, o político está aplaudindo. O político te diz, “você não deve se preocupar, isto não é sua culpa”.



Quais são os próximos objetivos do Movimiento Cívico Nacional?

Nosso objectivo é posicionar a República como o antídoto ao populismo, a vacina do mesmo. A República é justamente o sistema que resguarda os direitos individuais e mantém a institucionalidade e o governo das leis.

Para o próximo ano, que é ano eleitoral na Guatemala, nosso desafio é seguir empreendendo as visitas que estamos fazendo as áreas rurais.

Trabalhamos, por exemplo, com comunidades indígenas que tem sido facilmente manipuladas por líderes populistas. Lhes contamos quais são seus direitos, suas obrigações e como funciona o Estado da Guatemala.

E agora, com o boom que tem tido o vídeo, buscaremos fazer uma rede de trocas de informações e conhecimento. Também poderemos fazer, por exemplo, uma colecta massiva de objectos tecnológicos em desuso que se podem doar.

O que a popularidade deste vídeo tem demonstrado é que padecemos de maus muito similares [na América Latina], assim as soluções podem ser as mesmas.



Estão te tentando a participar da política? Políticos tem te procurado por causa do vídeo?

Desde as eleições passadas, como eu trabalha numa rádio, vários partidos políticos tem me procurado buscando que eu lhes desse aval, um selo de aprovação, mas pelo trabalho que sempre tenho feito nos meios de comunicação me mantenho neutra.

Por conta do vídeo, vários partidos políticos tem sim me convidado para participar, mas a verdade é que não me interessa. Tenho visto como eles tem utilizado companheiros meus só para usar seus nomes e limpar o passado sujo de políticos anteriores. Portanto não, não me interessa.


Traduzido e revisado por Adriel Santana. | Artigo original.



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